Não sendo um conceito muito conhecido, a Biomimética é uma ciência que estuda as estratégias próprias da natureza de forma a implementá-las em soluções que deem respostas eficientes a problemas atuais. Para melhor compreender esta corrente de pensamento, olhemos o exemplo dos aviões, cuja criação se baseou no voo dos pássaros.
A adoção de sistemas ou conceitos revelados pela natureza é o princípio. A Biomimética reconhece na natureza a sabedoria própria de bilhões de anos de crescimento, inspirando-se nela para o desenvolvimento de soluções nas mais diversas áreas, desde a saúde, a estética, as engenharias, o design ou mesmo a arquitetura. Em 2014 uma empresa do Colorado (EUA) desenvolveu uma tecnologia denominada Sharklet que reduz a contaminação de superfícies, inspirada na estrutura da pele do tubarão, que evita a aderência de microorganismos. Também no Brasil o projeto do Votu Hotel na Bahia inspirou-se nas tocas do cão-da-pradaria para garantir conforto térmico às suas dependências. Outro exemplo é o de uma empresa alemã que desenvolveu uma linha de vidros inspirada na teia da aranha, cuja fibra reflete a luz UV, de tal forma que estes se tornam visíveis às aves e invisíveis ao olho humano, evitando a morte de muitas aves por colisão.
A arquitetura biomimética é assim uma corrente que procura soluções sustentáveis na natureza, adotando não só as suas formas, mas também os princípios ou estratégias. Também no Brasil, país rico em biodiversidade, os escritórios Mareines e Patalano projetaram uma casa de praia cuja cobertura, com a forma de 6 folhas grandes dispostas em círculo, promove a circulação dos ventos provenientes do litoral para o interior da habitação, tornando desnecessário o uso de sistemas de climatização artificiais.
São inúmeros os exemplos arquitetónicos que podemos encontrar numa breve pesquisa sobre este tema. O Templo de Lótus, em Nova Deli, do arquiteto Fariborz Sahba, é talvez um dos mais belos e enigmáticos edifícios de arquitetura biomimética, com a forma de uma flor de lótus, simbolizando a junção harmoniosa de pessoas de diferentes crenças por um mesmo propósito, a Paz. A construção parece flutuar como uma flor de lótus real, que cresce no meio das águas. As “folhas” da entrada (nove no total), demarcam a entrada em cada um dos nove lados do complexo. As folhas exteriores servem de telhado aos espaços auxiliares, complementadas pelas folhas internas que formam o principal espaço de adoração. Não existem linhas retas na sua forma e é construído principalmente em betão e revestido em mármore grego, resultando num exterior branco prístino.
Laura Landau, investigadora e mestre em biomimética, considera esta ciência como uma nova forma de olhar o mundo, em que as relações ecológicas e o saber dos organismos vivos podem guiar o ser humano para melhores formas de habitar o planeta. Perante o panorama das alterações climáticas, este poderá ser um caminho que conduz ao desagravamento da pegada humana nos ecossistemas. E uma fonte de inspiração inesgotável!